O amor nos tempos do cólera emêbeéliano



Parcos e ébrios leitores, o amor existe em SP.

Ele não só existe, como tem endereço.


"O amor e outros objetos pontiagudos" fixou residência num botequim copo-sujo, localizado na esquina da Rua 13 de Maio com a Santo Antônio, bairro do Bixiga.


Pois é, incautos leitores, "esse tal de amor e outros sentimentos cruéis" ressurge, feito o livraço do Bortolotto, na "dura poesia concreta de tuas esquinas". 


Caro Paulo Mendes Campos, se "o amor acaba, numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio", ele renasce, numa sexta-feira qualquer, na confluência das ruas citadas acima.


Sou testemunha, sem delação premiada, é óbvio, de um casal de longas primaveras, que religiosamente, sob a proteção e a benção de São Arnulfo de Metz, santo protetor dos cervejeiros, se afaga no meio-fio -- seja da nossa pobre existência, seja da dita esquina -- de segunda a segunda.


Como é belo vislumbrar, velho Graça, principalmente em tempos sombrios, "dois vultos indistintos na escuridão", ou na claridade, se amando de qualquer maneira, à vera, feito Paula e Bebeto.


Ai de mim, Bixiga.


O amor sobrevive nos botequins mais vagabundos. Bares cujos bancos de automóveis servem de assento. Com copos baratos de extrato de tomate. Adornados por penduricalhos de miçangas. Repletos de placas de trânsito desviadas das ruas e sinalizando a entrada dos banheiros. 

Entrecortados pelo farfalhar constante. A melodia incessante modulada pela velha vitrola. Os copos fustigando no balcão de fórmica. Feixe de luzes, dos faróis dos carros, invadindo o ambiente. O cigarro que se consome e se dissipa em cinzeiros feitos com recipientes de manteiga.. A bebida sorvida. O lirismo da jukebox e suas valsinhas melosas e melodiosas.

Ave, ave Saracura, Anhangabaú e todos os outros córregos, ribeirões e lagos do amor!

E viva o Anhangabaú da FelizCidade!




Comentários

  1. Tempos difíceis, amores improváveis... São Paulo resiste, apesar das dorianicas dores.

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    1. Sabe, essa veneração a sampa me deixa encafufada! Sou paulistana da gema, nasci e morri muitas vezes no paraíso, cresci entre o centro cultural vergueiro e o bexiga, a pé, porque num tinha grana e era poético perambular nas ruas a noite! Beleza! teve, verdade, nem sei se ainda tem, da última vez que tentei fazer isso fui roubada e senti muito medo! Além do medo, correndo, não era mais andar, da República sentido Ipiranga ficou nas entranhas o cheiro de urina curtida pelo calor, me deu náusea, olhei para as árvores e tinha ratos subindo e descendo, então pirei: definitivamente a coisa tá diferente e o sentimento que me vem sempre que penso nessa ultima a SAMPA é cruel, é amor na sua mais Ultrapassar crueldade deshumana que eu às vezes humana, as vezes animal pude experimentar.

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  2. Resistindo sempre, buscando e vivendo o amor, a amizade sempre!

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  3. Sempre encantador! Obrigada pelo gostinho de amor!

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