A Juriti



Ave César, saudemos esse vintage botequim, da família dos Peristerídeos! 

Eu, um reles apanhador num campo de cevada, e o meu costumeiro hábito de flanar pela alma encantadora das ruas, descobri, não muito por acaso, essa joia rara. 

Conjunção dos astros, sintonia entre Lua e Saturno, embalo e acerto astral, diria Quiroga.

Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão, retrucaria o Poetinha, ignorando a picaretagem astrológica.

E põe razão nisso, caros colegas bukowskianos.

"A Juriti", é uma ave columbiforme etílica que permanece incólume ao tempo!

Associo o botequim ao cenário da película alemã, "Adeus, Lênin!". Parece que os personagens, ou melhor, os habitués do bar foram preservados e vivem sob o espectro do passado.

E eu, caro Antonio Prata, que sou meio intelectual, meio de esquerda, fiquei fascinado por essa ave rara.

Sob a égide dos azulejos alentejanos edifiquei a minha nova morada.

Caro Lobão, tu que pensas no exílio em Miami, professo o meu alerta agourento: as aves que lá gorjeiam, não gorjeiam como cá.

Aqui tem outro atributo, renitente leitor, que não canso de ressaltar. O botequim foi frequentado e, sobretudo, referendado por um homem de moral.

Duas notas, quem é o dito cujo, maestro Zezinho?

É ele mesmo, sábio leitor.

Paulo Vanzolini, um dos maiores zoólogos do país. Compositor brasileiro, idem. Exímio especialista em répteis, ibidem.

O gênio rondou a cidade a te procurar. E te encontrou, "Rainha dos aperitivos".

E a encontrou na bucólica Rua Amarante, no portentoso bairro do Cambuci.

Ora, um zoólogo que se preza, jamais desprezará uma bela fruta. Ainda mais um fruto que alimenta uma parcela considerável de répteis.

O Seu Lindinho, proprietário, há mais de 40 anos do laureado bar, é também a simpatia em pessoa.

O Sílvio Santos há de convir comigo, que o Lindinho é "coisa nossa".

Aliás, todo conjunto é coisa nossa: botequim, história, dono, garçons, aperitivos e as saborosas iguarias.

Técnicos do Condephaat, eu lanço meu manifesto, a Juriti carece de tombamento.

Tombamento já!

E a incendiária porção de linguiça, intitulada Joana D'Arc, também.

Amnésico leitor, na próxima visita, não esqueça de provar a iguaria.

Só não vale sair à francesa e deixar de pagar a conta. 

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Comentários

  1. Oi, Gustavo.

    Não entendo muito de bebida porque não curto </3 Mas você escreve poesia em prosa de um modo surpreendente. Magnífico! Adorei o texto. Já estou seguindo você.

    Com carinho,
    Celly.

    http://melivrandoblog.blogspot.com

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  2. Preciso tomar um gole nesse boteco aí!! Quem sabe não comporemos a mega diversidade dessa avifauna? Esse poleiro etílico que é o Juriti! Ótimo texto!

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